A obra que deixou é monumental: bastavam os oito gigantescos tomos do 'Inventário Artístico de Portugal' da Academia Nacional de Belas-Artes, dedicados aos Distritos de Évora e Beja, para o afirmarem como referência insubstituível. Mas há também os milhares de páginas no Boletim 'A Cidade de Évora', de que foi o responsável durante décadas, pondo Évora no palco internacional de conhecimento, e bem assim muitas outras publicações alentejanas onde a sua sensibilidade, a sua inteligência, a sua veia arguta de investigador, a sua eficácia pioneira na divulgação turística, se manifestaram.
Aliou o eruditismo 'puro' a um sentido de cidadania consciente e consequente na afirmação dos valores do Património como bem comum. Évora, cidade Património Mundial/UNESCO, deve a Túlio Espanca a candidatura vitoriosa.
Era homem de causas, de 'coração à esquerda' - mas nem por isso menos respeitado pelos de 'outros quadrantes', já que, à margem de ideologias e alinhamentos pessoais, fez imperar sempre na sua conduta o sentido da salvaguarda da História, da Cultura e do Património como bens identitários de partilha.
A ANBA deve-lhe a voz autorizada do inventariante-referência a nível nacional. A História da Arte deve-lhe a dignificação dos bens patrimoniais como um todo de valências e saberes. O Alentejo profundo teve em Túlio o defensor indefectível, pois o simples acto de salvaguardar o Património e o dar a conhecer, explicando-o pela pesquisa, era também, para ele, redignificar condições de vida atrozes de uma grande região secularmente martirizada e, quase sem o saber, riquíssima de património artístico. É por isso que, apesar das desmemórias galopante destes tristes tempos, ainda acredito que há heranças imperecíveis e nesse sentido deixo mais uma palavra de homenagem a Túlio Espanca, quando passa o centenário do seu nascimento em Vila Viçosa., a juntar a muitas outras dos seus admiradores. Como a absoluta certeza, também, de que a sua obra científica está viva, e o seu legado perdura. Com ele, passámos a ver as artes do Alentejo (eruditas ou populares) sem preconceitos, e a estimá-las como discursos de eloquência perene.”
Vitor Serrão / Sentir Évora
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