8 de setembro de 2013

Francisco Ventura. Diz-lhe alguma coisa ?

"FRANCISCO Manuel VENTURA nasceu em Gavião em 16 de Fevereiro de 1910. Filho de Francisco Manuel Ventura e de Virgínia Costa Ventura, pequenos comerciantes, fez a Instrução Primária ao mesmo tempo que ajudava o pai no estabelecimento comercial.

Desde muito novo se apaixonou pelas letras e para isso muito contribuíram as "bibliotecas" de conterrâneos, bem como a do Seminário local. Os clássicos escritores do Século XIX eram os seus preferidos. Aos 13 anos escreveu a sua primeira peça teatral, sem nunca ter visto qualquer representação. Aos 17 anos "apareceu-lhe" a poesia, mas sempre às escondidas e com medo das risadas trocistas de amigos e companheiros.

Em 1933, então com 23 anos, veio para Lisboa, com o sonho na bagagem, estudar à noite e trabalhar. Conseguiu, trabalhando ao balcão, tirar o Curso Complementar do Comércio no Ateneu Comercial de Lisboa. Passou para trabalho de escritório em várias empresas privadas e depois para a Junta Nacional do Vinho no Cadaval, onde permaneceu 7 "longos" anos. Em 1946 foi admitido na Caixa de Previdência dos Profissionais do Comércio donde viria a reformar-se.

A entrada no mundo das letras foi tormentosa, à sua volta só encontrava obstáculos de toda a ordem: não tinha recomendações, curso superior, fortuna, ou frequência social que lhe pudessem abrir portas. A sua grande timidez, agravada por uma educação severa, e o seu pequeno porte físico levaram-no à destruição de tudo quanto, até aí, escrevera, jurando nunca mais o fazer.

Não cumpriu o juramento! Acicatado por alguns amigos, concorreu ao Primeiros Jogos Florais da Emissora Nacional e foi contemplado com uma Menção Honrosa, em Soneto, em 1936.
Viu, dessa maneira, a possibilidade de aparecer e concorreu a inúmeros Concursos Literários e Jogos Florais (Ateneu Comercial de Lisboa, Casa do Alentejo, Cidade de Évora, Cidade da Figueira da Foz, Mocidade Portuguesa, etc.) e obteve imensos prémios que alimentaram a sua actividade teatral. Colaborou em diversos jornais nacionais, e regionais: "O Século", "Diário Popular", "Voz do Mar", entre outros, e revistas, "Sulco", "Panorama", "Mensário das Casas do Povo", etc.

No entanto, o seu expoente literário foi o género literário dramático: FILHO SOZINHO, CASA DE PAIS, AUTO DA JUSTIÇA, HORA DE TODOS, MÚSICA FÁCIL, etc. são algumas das peças teatrais mais conhecidas. Nalgumas nota-se a presença de usos e costumes, nomes e expressões usuais em Gavião, sabendo no entanto evitar o regionalismo fácil, tendo a coragem e o talento de elevar o interesse humano e o pitoresco folclórico.

As suas peças foram representadas por todo o País, e nos grandes palcos como o Teatro Nacional D. Maria II ou o Teatro da Trindade, aos grupos amadores, a sua obra tem sido amplamente divulgada. A RTP não ficou indiferente ao sucesso de CASA DE PAIS e transmitiu-a variadas vezes, sendo, ainda hoje, a peça com maior número de transmissões a pedido do público (...). Em 23 de Novembro de 1979 (Feriado Municipal) o seu nome foi atribuído a uma rua em Gavião.
Faleceu em 26 de Agosto de 1994, vítima de doença prolongada, deixando obra de vulto no domínio da poesia, do ensaio, do teatro (inclusive infantil) bastante dele inédito, pois nunca possuiu editor (...)."

Transcrição de um texto de João Florindo publicado na brochura dedicada à Reinauguração do Cine-Teatro Francisco Ventura, em Gavião, no ano de 1997
(in CM Gavião)

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