São poucos os que as conseguem dedilhar com ritmo e melodia, mas são ainda menos os que a sabem construir. O tradicional instrumento de cordas alentejano continua vivo e o seu esqueleto ganha forma nas oficinas dos "mestres" das violas e das madeiras. Na verdade, podem encontrar-se ali, nos concelhos de Castro Verde e Odemira.
cintura estreita e "apertadinha", que muitos dizem assemelhar-se ao corpo de uma mulher, anda entre a serra e o campo. E há, até, quem diga que foi inspirada numa cabaça. Tanto que, Pedro Mestre assegura que "anda à procura da cabaça perfeita para construir uma campaniça".
Crente nas virtudes deste instrumento, o mestre da Sete diz que "esta viola permite fazer muitas coisas" e que "a sua maior riqueza é mesmo essa". E conclui: "Não há nenhum instrumento tradicional que seja tocado desta forma". Revela os saberes dos que a têm como companheira e confessa que "com a mão direita só é dedilhada com o polegar" e que "a escala processa-se de uma forma própria".
A preservação deste património é algo que os construtores e tocadores querem proteger a todo o custo. Amílcar Silva diz que "é preciso haver mais gente interessada no instrumento" e, de acordo com Daniel da Luz, "são os tocadores que podem salvar a campaniça". E explica: "Se as pessoas aprenderem a tocar, depois necessitam de adquirir o instrumento". Pedro Mestre tem vários projectos com a viola campaniça. Inclusive, juntou-se a um músico brasileiro que toca uma viola muito semelhante à tradicional do Alentejo – viola caipira – e tem levado o instrumento fora das fronteiras da região e do País. Quando questionado sobre a extinção desta tradição, Pedro conclui: "Tenho vários projectos. Para já, considero que consigo manter este instrumento vivo, porque estou a trabalhar diariamente com ele. Pelo menos, enquanto eu existir, haverá viola campaniça. Estão a ser feitos muitos trabalhos que estão a ser gravados e ficarão como testemunho. Também estou a tocar com um aluno. Por isso, eu posso deixar de existir mas a viola campaniça durará sempre".
A viola que marca ritmos vivos e extrovertidos, a solo ou a conduzir as modas, continua viva e é moldada pelas mãos dos que as tocam e fazem.
(Bruna Soares)
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