14 de maio de 2013

A fome nos campos do Alentejo - por Galopim de Carvalho

Nesses anos da minha infância, a fome nos campos do Alentejo era muita. Sem um quinhão de terra para cultivarem, as famílias viviam das magras e esporádicas jornas, ao sabor dos caprichos do Sol, das chuvas e das geadas.

Sem trabalho, os cifrões cresciam no livro dos fiados, na venda da aldeia, sem esperança de os ver reduzir ou apagar.

Os homens, nunca as mulheres, acabavam por vir para a cidade, pedir esmola. Vinham aos grupos de três ou quatro, não para se imporem pelo número, mas porque se envergonhavam e intimidavam se viessem sozinhos. Batiam-nos à porta e, tendo vindo abrir-lha, cumprimentavam de chapéu na mão e o que falava apenas dizia que não tinham trabalho e que precisavam de levar de comer para os filhos.

Voltando à cozinha, a chamar a minha mãe, dizia: - Estão ali os trabalhadores do campo, a pedir!

Não lhes chamávamos pobrezinhos nem, muito menos, mendigos porque, de facto, não o pareciam nem eram. Tinham dignidade e majestade e, na resignação que mostravam, adivinhava-se a revolta dentro do peito. Pediam pão ou algum dinheiro para comprarem avio que levassem de volta para casa. A minha mãe respeitava-os profundamente e dava-lhes o que podia, como se fossem irmãos. Sem que o dissesse abertamente, ensinou-me a amá-los. E, embora a vida fizesse mais de mim um menino, um rapaz e um homem da cidade, sempre me senti filho do campo e irmão dos camponeses.

Com eles, não só aprendi a olhar os homens e a natureza, como fiquei a saber o que é comer “pão com navalha”, uma forma muito expressiva de dizer pão sem conduto, e que “açorda de mão no bolso”, no seu sentido crítico pleno de humor, muito comum neste povo, significa que, não havendo na tijela mais do que o caldo e o pão migado, só se usava a mão que pegava na colher.

Galopim de Carvalho

Valorizar os baluartes da raia alentejana


Semana da juventude em Elvas


Vamos às bifanas !


Motas, motas, motas...


13 de maio de 2013

Aprender a fazer mantas de lã tipo guadiana...


Tapeçarias de Portalegre em exposição (Lisboa)

Em Portugal existe um tesouro artístico com uma grande tradição e do qual pouco se fala, mas ele está bem vivo e é exposto frequentemente. Falamos da Tapeçaria de Portalegre, técnica já com 70 anos desde a sua invenção e que continua a ser posta em prática por artistas portugueses contemporâneos de topo como Joana Vasconcelos ou Siza Vieira, mas que ao longo dos tempos foi sendo escolhida também por artistas internacionais. Um pouco por todo o mundo, a tapeçaria tem vindo a conhecer um declínio e um desinteresse por parte do público, estando muitas vezes limitada a reproduções de peças antigas ou a exposições em museus. Ao contrário desta tendência internacional, a Tapeçaria de Portalegre continua dinâmica e a aliar-se aos artistas contemporâneos. É esta história que começou nos anos 40 do século passado que se conta na exposição “Vai Ser Arte – 70 Anos de Arte Contemporânea”, no Jardim da Cascata do Palácio Nacional de Belém.

De entre os vários equívocos que os mais distraídos cometem ao observar uma Tapeçaria de Portalegre, um deles é confundi-la com um tapete. Ora estas tapeçarias não foram feitas para estarem no chão, são de uso mural, ou seja, em parede. São para serem observadas na vertical e não pisadas na horizontal. Outro equívoco é a ideia de que a tapeçaria reproduz um quadro e ponto final. Ora, é possível que assim seja em algumas excepções, mas esta exposição mostra aquilo que existe antes de se realizar a tapeçaria: os chamados cartões. Os cartões são desenhos a partir dos quais se realiza o motivo em quadrícula que serve para as tecedeiras se guiarem na construção da tapeçaria fio a fio, nó a nó. Pode dizer-se que estes cartões vão ser arte, no sentido em que são apenas uma das etapas para a realização da obra de arte finalizada. Mas também se pode olhar para os cartões como obras de arte em si mesmas. É essa a proposta desta mostra: conhecer as peças que deram origem às tapeçarias. E com isso entender as capacidades técnicas da tapeçaria, assim como os passos e saberes que a desenvolvem e concretizam. Talvez depois desta exposição já haja menos pessoas a chamarem estas obras de arte de tapetes.

“Vai Ser Arte – 70 Anos de Arte Contemporânea”. No Jardim da Cascata do Palácio Nacional de Belém até 31 de Agosto. Ter-Sex 10.30-13.00/ 14.00-17.30; Sáb 10.30-13.00/ 14.00-17.30; Dom 14.00-17.30. Bilhetes: 2,50€.

(Expresso)

Guitarra clássica em Arraiolos


XIXª Festa Ibérica da Olaria e do Barro

A 19ª edição da FIOBAR – Festa Ibérica da Olaria e do Barro – uma organização conjunta do município de Reguengos de Monsaraz, Junta de Freguesia de Corval e Ayuntamiento de Salvatierra de los Barros com o apoio do IEFP, decorre este ano em S. Pedro do Corval entre os dias 16 e 19 de Maio.

A Festa Ibérica da Olaria e do Barro é um evento transfronteiriço de promoção cultural e turística de uma importante manifestação artística e artesanal: a olaria. Organizada em anos alternados em cada município, com esta iniciativa pretende-se valorizar a olaria, chamar a atenção para o seu valor artesanal e artístico e apontar estratégias para o seu desenvolvimento económico e profissional.

Evento com dimensão ibérica reúne o maior centro oleiro de Portugal (S. Pedro do Corval) e Espanha (Salvatierra de los Barros) através das exposições, demonstrações, jornadas ibéricas e música tradicional ali patentes. Os visitantes terão oportunidade de visitar as olarias e experimentar a arte de moldar e pintar o barro e conhecer a oferta gastronómica e cultural desta região de turismo do Alentejo Central.

(Tudo Bem)

12 de maio de 2013

O alentejano que travou Alves dos Reis...

A história é simples e conta-se em poucas linhas: em plena década de 20 do passado século, e depois de preso por desvio de fundos em Angola, Artur Alves dos Reis arquitectou um ardiloso plano, no âmbito do qual, e mediante vários estratagemas, conseguiu falsificar dinheiro português e enriquecer. Contudo, o crime raramente compensa e Alves dos Reis acabou por cair nas malhas das justiça e ser condenado a 20 anos de prisão por burla. Ora quis o destino que a governar na altura o Banco de Portugal estivesse Inocêncio Camacho Rodrigues, alentejano de gema e meio-irmão de Manuel de Brito Camacho. Nascido em Moura em 1867, filho de Manuel do Carmo Rodrigues da Costa e de Genoveva Máximo Camacho, Inocêncio Camacho Rodrigues acabou por ser uma das mais ilustres personalidades da política e finanças da época, apesar de ficar com essa “mancha” chamada Alves dos Reis no seu currículo.

Professor na Faculdade de Ciências e deputado à Assembleia Constituinte de 1911, Camacho Rodrigues foi também jornalista e colaborador dos jornais “A Luta” e “A Pátria”, director-geral da Fazenda Pública, secretário-geral do Ministério das Finanças e ministro das Finanças no Governo de António Granjo (1920).
Antes, em 1911, Inocêncio Camacho Rodrigues foi empossado como o quinto governador do Banco de Portugal, sucedendo a José Adolfo de Mello e Sousa, cargo em que se manteve até 30 de Junho de 1936, apesar do escândalo em que se viu envolvido devido às burlas de Alves dos Reis. Faleceu a 11 de Setembro de 1943.

(in Correio do Alentejo)

Debater o "nosso petróleo"...


11 de maio de 2013

Caminhada em Alagoa

Inscrições até 13 de Maio !

Prémio de poesia Raúl de Carvalho

O prémio de Poesia "Raul de Carvalho" é instituído pelo Município de Alvito que entende, desta forma, homenagear o poeta alvitense e, simultaneamente, criar um espaço de apoio e divulgação de novos talentos.

Tem fundamentalmente dois objetivos específicos que são, por um lado a vontade de homenagear o autor que deu o nome ao prémio, Raul de Carvalho, natural do concelho de Alvito e, por outro, a necessidade de incentivar a criatividade literária, bem como o gosto pela escrita, que consideramos serem atividades essenciais para um bom desenvolvimento intelectual.

Entrega de trabalhos até 27 de setembro. Veja aqui o Regulamento, ou consulte o site do Município do Alvito.

“Perpassa na poesia de Raul de Carvalho um desespero anárquico constantemente dividido entre um terno sentimento e uma solidão angustiosa”. Quem o afirma é o crítico Serafim Ferreira, analisando assim a obra poética de Raul de Carvalho, que na sua solidão envolve de “recôndita ternura os Homens e os seres que os rodeiam” através de uma escrita onde as influências de Fernando Pessoa e Teixeira de Pascoaes são bem notórias. Nascido em Alvito a 4 de Setembro de 1920, Raul Maria de Carvalho passou toda a sua infância no Baixo Alentejo, onde brincou ao sabor do vento e das estações na planície. Um período de memórias que jamais esqueceu e sempre fez questão de deixar bem vincado nos seus livros mais autobiográficos.

Depois da infância passada em Alvito, Raul de Carvalho rumou, em plena década de 40, até Lisboa, onde se tornou frequentador do mítico café Martinho da Arcada. Foi lá que começou a contactar com grandes personalidades do meio literário da época, revelando igualmente uma enorme preocupação pela condição dos mais desfavorecidos. Raul de Carvalho assumiu então as afinidades que o ligavam ao movimento neo-realista e surrealista, tornando-se colaborador das revistas “Távola Redonda”, “Cadernos de Poesia” e “Árvore”, onde chegou a co-director entre os anos de 1951 e 1953. Em 1956 foi premiado com o “Prémio Simon Bolívar” no Concurso Internacional de Poetas de Siena (Itália) e a partir daí dedicou-se de corpo e alma à poesia, editando várias obras.

Raul de Carvalho morreu em 1984, a um dia de completar 64 anos de vida, no Hospital de São João, no Porto.

(in Correio do Alentejo)