O Meu Alentejo
Meio-dia. O sol a prumo cai ardente,
Doirando tudo. Ondeiam nos trigais
D´oiro fulvo, de leve…docemente…
As papoilas sangrentas, sensuais…
Andam asas no ar; e raparigas,
Flores desabrochadas em canteiros,
Mostram por entre o oiro das espigas
Os perfis delicados e trigueiros…
Tudo é tranquilo, e casto, e sonhador…
Olhando esta paisagem que é uma tela
De Deus, eu penso então: onde há pintor,
Onde há artista de saber profundo,
Que possa imaginar coisa mais bela,
Mais delicada e linda neste mundo?!
Florbela Espanca
11/05/1916
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