25 de dezembro de 2013

O Alentejo por Miguel Torga

“Foi a terra alentejana que fez o homem alentejano, e eu quero-lhe por isso. 
Porque o não degradou, proibindo-o de falar com alguém de chapéu na mão. 

Mas não são apenas essas subtis razões éticas e geográficas que me fazem gostar do Alentejo. Amo também nele os frutos palpáveis duma harmonia feliz entre o barro e o oleiro. 

Amo igualmente o que o homem fez e a terra deixou fazer. Diante de um Tapete de Arraiolos, ou a ouvir uma canção a um rancho de Serpa, implico o habitante e o habitado no mesmo processo criador e louvo-os no mesmíssimo entusiasmo ( ... ). 

O diverso, o inesperado, o antagónico, é que é a pedra de toque do entendimento. Ora o Alentejo é esse diverso, esse inesperado, esse antagónico. Tudo nele é novo e bizarro para quem o visita. 

Os arcos, as silharias, as abóbadas e coruchéus das suas casas; a açorda de coentro e o gaspacho de alho e vinagre das suas refeições; as insofridas parelhas de mulas guisalheiras a martelar as calçadas ao amanhecer; as pavanas cinegéticas que oferece aos convidados; os magustos de bolota; os safões dos homens e o chapéu braguês das mulheres - são ferroadas no nosso quotidiano”
(Miguel Torga)

Sem comentários:

Enviar um comentário

Obrigado pelo seu comentário...