10 de junho de 2013

O alentejano que descobriu a América

Estátua de Colombo em Cuba - Alentejo
Três livros publicados recentemente, dois de autores residentes nos Estados Unidos, relançaram a tese da nacionalidade portuguesa de Cristovão Colombo: “Codex 632”, de José Rodrigues dos Santos, jornalista da RTP; “Cristovão Colon era Português”, do médico Manuel Luciano da Silva e da esposa, Sílvia Jorge da Silva e “O Mistério Colombo Revelado”, de Manuel da Silva Rosa e Eric James Steele.

Estas obras são baseadas fundamentalmente no trabalho do historiador Augusto Mascarenhas Barreto “Cristóvão Colombo - Agente Secreto de El Rei D. João II (1988), que abre uma série de pistas sobre a origem portuguesa do navegador.
A teoria do Colombo genovês conseguiu implantar-se nos livros de história, mas cada vez se levantam mais dúvidas. Apesar de usar o pseudónimo de Cristovão e de assinar XpoFERENS (aquele que leva Cristo) na sigla cabalística que usava, o seu verdadeiro nome seria Salvador e era um nobre português que se mudou
para Castela em 1484 e acabou por convencer os reis espanhóis a apoiá-lo na sua ideia de atingir a India através do Ocidente, mas na realidade cumpriria uma missão secreta para os reis de Portugal.

A obra de José Rodrigues do Santos, “Codex 632”, conta a história de uma investigação em torno da possibilidade de Colombo ser português, apoiando-se em lacunas do percurso do navegador cuja identidade e missão continuam a suscitar dúvidas.

Estreou em Portugal o filme “Cristovão Colon - o Enigma”, de Manoel de Oliveira, baseado no livro “Cristovão Colon era Português”, do casal Silva, residente em Bristol. Livro e filme relançam para a praça
pública a questão da nacionalidade do descobridor da América, cuja origem italiana tem sido impingida ao longo dos séculos embora Colombo não soubesse falar ou escrever italiano, nunca tenha visitado Itália, nunca se correspondeu com qualquer familiar em Itália e nem sequer deu apoio ao suposto pai genovês, que
morreu na miséria em 1499.

Festival de Folclore em Montemor


Ferreira do Alentejo, vista aérea...

(Foto: A Terceira Dimensão)

9 de junho de 2013

Festa da Primavera em Aguiar


Amor e Marmelos... em Portel


Olaria de Nisa: juntar artesãos e jovens designers

Está confirmadíssimo, dias 13, 14 e 15 vamos rumo a Nisa para a Workshop sobre a Olaria Pedrada de Nisa, estão abertas as inscrições a todos os estudantes de design, mediante candidatura!

O objectivo é permitir que estudantes de design, interajam com um artesão e com outros designers, afim de encontrar novos e desafiadores caminhos para a Olaria Pedrada de Nisa.

http://on.fb.me/VUetev

Descrição
A presente página pretende divulgar o projecto de investigação ‘Olaria Pedrada de Nisa: do Artesanato ao Design de Produto’, no âmbito do meu doutoramento em design.

O meu principal propósito é promover a interacção com outros investigadores, designers, comunidades locais, coleccionadores privados com peças de relevo para a investigação, etc.
Aqui todas as sugestões e inputs são bem-vindos!
(A.H.Grácio)

Salvé Maravilha em Montemor a 10 de junho


Este espectáculo foi adiado para o dia 10 de Junho

Voltar à idade média em Monforte


Festival do petisco em Borba


8 de junho de 2013

Luta de Classes

Foto: Carlos Jesus
Não contem comigo para defender o elitismo cultural. Pelo contrário, contem comigo para rebentar cada detalhe do seu preconceito.

A cultura é usada como símbolo de status por alguns, alfinete de lapela, botão de punho. A raridade é condição indispensável desse exibicionismo. Só pertencendo a poucos se pode ostentar como diferenciadora. Essa coleção de símbolos é descrita com pronúncia mais ou menos afetada e tem o objetivo de definir socialmente quem a enumera.

Para esses indivíduos raros, a cultura é caracterizada por aqueles que a consomem. Assim, convém não haver misturas. Conheço melhor o mundo da leitura, por isso, tomo-o como exemplo: se, no início da madrugada, uma dessas mulheres que acorda cedo e faz limpeza em escritórios for vista a ler um determinado livro nos transportes públicos, os snobs que assistam a essa imagem são capazes de enjeitá-lo na hora. Começarão a definir essa obra como "leitura de empregadas de limpeza" (com muita probabilidade utilizarão um sinónimo mais depreciativo para descrevê-las).

Este exemplo aplica-se em qualquer outra área cultural que possa chegar a muita gente: música, cinema, televisão, etc. Aquilo que mais surpreende é que estes "argumentos", esta forma de falar e de pensar seja utilizada em meios supostamente culturais por indivíduos supostamente cultos, e só em escassas ocasiões é denunciada como discriminadora do ponto de vista sexual ou social.

Isso são livros de gaja, dizem eles. Às vezes, para cúmulo, há mesmo mulheres que dizem: isso são livros de gaja.
A raiz da minha cultura não pertence ao elitismo. Tenho orgulho das minhas origens, do meu avô pastor, do meu pai carpinteiro, como outros têm orgulho dos seus longos nomes compostos.
Depois de um trabalho que encerre convicções profundas, que tenha em conta os princípios da sua área artística, que seja consciente da história dessa área e que faça uma proposta coerente e inovadora, acredito na divulgação o mais ampla possível.

Esconder uma obra em tiragens de 300 exemplares não lhe acrescenta um grama de valor artístico. Quando essa falta de divulgação resulta de uma escolha, pressupõe, quase sempre, falta de consideração pelo público, a crença de que um público mais vasto seria incapaz de entender tamanha sofisticação.
Acredito que a poesia pode ser publicada em caixinhas de fósforos, escrita com trincha ou spray nas paredes, impressa em t-shirts, afixada no facebook. Em qualquer um desses lugares, será diferente, mas em todos continuará a ser poesia.

É ridícula a ideia de que a divulgação deturpa. A banalização é sempre tarefa de quem banaliza e não do objeto banalizado. Quem não for capaz de convocar os seus sentidos e a sua razão para apreciar uma determinada obra, apenas por acreditar que se encontra muito difundida, tem problemas graves ao nível do espírito crítico e da isenção mais básica. Esse é um daqueles casos em que se aconselha a lavagem de olhos. É aí que reside a deturpação.

Admiro o povo ao qual pertenço. Não o povo mitificado, admiro o povo quotidiano. Gosto de ir a feiras. Gosto de comer frango assado com as mãos. Devo tanto à cultura deste povo como devo a Dostoievski Há alguns meses, a personagem de uma telenovela citou um poema escrito por mim. Toda a gente da minha rua viu e ouviu. A minha mãe ficou orgulhosa e eu também.

Chamo-me José ou, se preferirem, Zé. Desprezo o elitismo. O verbo não é exagerado, adequa-se bem ao que sinto.
Hei de sempre divulgar o meu trabalho na máxima dimensão das minhas capacidades. Devo esse esforço à convicção que tenho naquilo que escolhi dizer. Fico feliz se vejo os meus livros disponíveis em supermercados, estações de correios, bombas de gasolina ou bibliotecas públicas.

Aquilo que faço não existe sozinho, precisa de alguém que lhe dê sentido, o seu próprio sentido e interpretação pessoal. Se uma árvore cair sozinha na floresta, sem ninguém por perto, será que faz barulho? Por esse motivo, o esforço de divulgação é também uma mostra de respeito para com essas pessoas, é um sinal da minha crença nelas e no seu valor. Exatamente como estas palavras, que existem porque estás a lê-las.
Escrevo romances, a minha força de vontade é enorme. Tenho 38 anos, conto estar por cá durante bastante tempo. Tenho ainda muito por fazer.
Habituem-se.
Não tenho medo.

José Luis Peixoto

Tá-ti quietu, bunitu, que te penteyu, para que ehteja mái guapu...

O barranquenho é, por norma, trilingue: fala português, barranquenho e
castelhano.
Leite de Vasconcelos, o primeiro filólogo português a debruçar-se sobre  o estudo deste idioma, descreve-o como “um curioso dialecto popular usado no concelho de Barrancos; tem por base o falar do Baixo Alentejo, modificado pelo extremenho andaluz, que lhe deu uma feição muito notável”.

De facto, rara será a família barranquenha que não tenha antecedentes
portugueses e espanhóis. Assim, todos os habitantes de barrancos falam, sem excepção, as duas línguas. E um fenómeno curioso: é normal que uma conversa comece em português, continue em barranquenho e termine em espanhol. Do mesmo modo, as gerações mais novas, a partir do momento em que começam a frequentar a escola primária, falam português entre si. Contudo, com os avós, por exemplo, optam pelo barranquenho. De salientar é o facto de, embora o português seja adoptado – regra geral – como língua de comunicação – nos lares barranquenhos, a emissora de televisão preferida é a espanhola. As compras também são feitas na povoação espanhola vizinha de Encinasola.

A 17 de Setembro de 1998 é aprovado na Assembleia da República a concessão do estatuto de língua oficial portuguesa ao Mirandês (até então dialecto falado no Nordeste do país), que, a partir desta data, passa a ser ensinado nas escolas, existindo alguma bibliografia nesta língua.

Colocou-se, então, a questão de conceder o mesmo estatuto ao Barranquenho, que até aqui é um dialecto oral, transmitido de geração em geração. Porém, esta questão é para a Câmara Municipal de importância secundária, insistindo na manutenção da sua transmissão oral. Houve alguma tentativa de constituir uma
comissão formada por professores, para o efeito de sistematizar e proceder ao ensino da língua. Esta tentativa não teve, até hoje, qualquer desenvolvimento.

Deste modo, não existe literatura em barranquenho, apenas nos livros de Maria Eugénia Fernandes, a avó do protagonista ainda fala dialecto, que é transcrito, como no exemplo: “Tá-ti quietu, bunitu, que te penteyu, para que ehteja mái guapu”, “hablan, por ejemplo, português en el local de trabajo, barranqueño en familia y español con los españoles”.

De influência espanhola: a rapidez no falar, o betacismo (ausência do som /v/), a aspiração do /s/ e do /r/ (influência andaluza), a alteração dos géneros das palavras (ex: la leche), colocação de pronome antes do verbo ir: me bô [me voy], utilização de me gohta [me gusta]. Ainda a utilização da forma espanhola do nome no trato geral, ainda que no registo civil esteja a forma portuguesa. Ex: Maria das Dores – Dolores.

De influência portuguesa: alguns substantivos (Ex: xapéu (não sombrero), os pronomes: eu, ela, nó, bocedes. A saudação de despedida: Adeu (não adiós) e a ausência de síncope do /d/ na sílaba final entre vogais, como acontece na Andaluzia Ex: Cansado (não cansao).

Não somos portugueses nem espanhóis: somos Barranquenhos.
O Barranquenho é muito orgulhoso da sua cultura e manutenção das tradições.
Seria interessante que fossem dadas a conhecer outras tradições para além da tourada; como a do Natal comunitário e sobretudo que o projecto relativamente ao ensino do dialecto barranquenho fosse recuperado, pois há ainda um património riquíssimo que não se sabe existir.
(in C.M.Barrancos)