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8 de junho de 2013

Tá-ti quietu, bunitu, que te penteyu, para que ehteja mái guapu...

O barranquenho é, por norma, trilingue: fala português, barranquenho e
castelhano.
Leite de Vasconcelos, o primeiro filólogo português a debruçar-se sobre  o estudo deste idioma, descreve-o como “um curioso dialecto popular usado no concelho de Barrancos; tem por base o falar do Baixo Alentejo, modificado pelo extremenho andaluz, que lhe deu uma feição muito notável”.

De facto, rara será a família barranquenha que não tenha antecedentes
portugueses e espanhóis. Assim, todos os habitantes de barrancos falam, sem excepção, as duas línguas. E um fenómeno curioso: é normal que uma conversa comece em português, continue em barranquenho e termine em espanhol. Do mesmo modo, as gerações mais novas, a partir do momento em que começam a frequentar a escola primária, falam português entre si. Contudo, com os avós, por exemplo, optam pelo barranquenho. De salientar é o facto de, embora o português seja adoptado – regra geral – como língua de comunicação – nos lares barranquenhos, a emissora de televisão preferida é a espanhola. As compras também são feitas na povoação espanhola vizinha de Encinasola.

A 17 de Setembro de 1998 é aprovado na Assembleia da República a concessão do estatuto de língua oficial portuguesa ao Mirandês (até então dialecto falado no Nordeste do país), que, a partir desta data, passa a ser ensinado nas escolas, existindo alguma bibliografia nesta língua.

Colocou-se, então, a questão de conceder o mesmo estatuto ao Barranquenho, que até aqui é um dialecto oral, transmitido de geração em geração. Porém, esta questão é para a Câmara Municipal de importância secundária, insistindo na manutenção da sua transmissão oral. Houve alguma tentativa de constituir uma
comissão formada por professores, para o efeito de sistematizar e proceder ao ensino da língua. Esta tentativa não teve, até hoje, qualquer desenvolvimento.

Deste modo, não existe literatura em barranquenho, apenas nos livros de Maria Eugénia Fernandes, a avó do protagonista ainda fala dialecto, que é transcrito, como no exemplo: “Tá-ti quietu, bunitu, que te penteyu, para que ehteja mái guapu”, “hablan, por ejemplo, português en el local de trabajo, barranqueño en familia y español con los españoles”.

De influência espanhola: a rapidez no falar, o betacismo (ausência do som /v/), a aspiração do /s/ e do /r/ (influência andaluza), a alteração dos géneros das palavras (ex: la leche), colocação de pronome antes do verbo ir: me bô [me voy], utilização de me gohta [me gusta]. Ainda a utilização da forma espanhola do nome no trato geral, ainda que no registo civil esteja a forma portuguesa. Ex: Maria das Dores – Dolores.

De influência portuguesa: alguns substantivos (Ex: xapéu (não sombrero), os pronomes: eu, ela, nó, bocedes. A saudação de despedida: Adeu (não adiós) e a ausência de síncope do /d/ na sílaba final entre vogais, como acontece na Andaluzia Ex: Cansado (não cansao).

Não somos portugueses nem espanhóis: somos Barranquenhos.
O Barranquenho é muito orgulhoso da sua cultura e manutenção das tradições.
Seria interessante que fossem dadas a conhecer outras tradições para além da tourada; como a do Natal comunitário e sobretudo que o projecto relativamente ao ensino do dialecto barranquenho fosse recuperado, pois há ainda um património riquíssimo que não se sabe existir.
(in C.M.Barrancos)

4 de maio de 2013

Dialecto barranquenho

O barranquenho é, por norma, trilingue: fala português, barranquenho e castelhano. Leite de Vasconcelos, o primeiro filólogo português a debruçar-se sobre o estudo deste idioma, descreve-o como “um curioso dialecto popular usado no concelho de Barrancos; tem por base o falar do Baixo Alentejo, modificado pelo extremenho andaluz, que lhe deu uma feição muito notável”.

De facto, rara será a família barranquenha que não tenha antecedentes portugueses e espanhóis. Assim, todos os habitantes de Barrancos falam, sem excepção, as duas línguas. E um fenómeno curioso: é normal que uma conversa comece em português, continue em barranquenho e termine em espanhol. Do mesmo modo, as gerações mais novas, a partir do momento em que começam a frequentar a escola primária, falam português entre si. Contudo, com os avós, por exemplo, optam pelo barranquenho. De salientar é o facto de, embora o português seja adoptado – regra geral – como língua de comunicação – nos lares barranquenhos, a emissora de televisão preferida é a espanhola. As compras também são feitas na povoação espanhola vizinha de Encinasola.

A 17 de Setembro de 1998 é aprovado na Assembleia da República a concessão do estatuto de língua oficial portuguesa ao Mirandês (até então dialecto falado no Nordeste do país), que, a partir desta data, passa a ser ensinado nas escolas, existindo alguma bibliografia nesta língua.
Colocou-se, então, a questão de conceder o mesmo estatuto ao barranquenho, que até aqui é um dialecto oral, transmitido de geração em geração. Porém, esta questão é para a Câmara Municipal de importância secundária, insistindo na manutenção da sua transmissão oral. Houve alguma tentativa de constituir uma
comissão formada por professores, para o efeito de sistematizar e proceder ao ensino da língua. Esta tentativa não teve, até hoje, qualquer desenvolvimento.

Deste modo, não existe literatura em barranquenho, apenas nos livros de Maria Eugénia Fernandes, a avó do protagonista ainda fala dialecto, que é transcrito, como no exemplo: “Tá-ti quietu, bunitu, que te penteyu, para que ehteja mái guapu”, “hablan, por ejemplo, português en el local de trabajo, barranqueño en familia y español con los españoles”.

De influência espanhola: a rapidez no falar, o betacismo (ausência do som /v/), a aspiração do /s/ e do /r/ (influência andaluza), a alteração dos géneros das palavras (ex: la leche), colocação de pronome antes do verbo ir: me bô [me voy], utilização de me gohta [me gusta]. Ainda a utilização da forma espanhola do nome no trato geral, ainda que no registo civil esteja a forma portuguesa. Ex: Maria das Dores – Dolores.

De influência portuguesa: alguns substantivos (Ex: xapéu (não sombrero), os pronomes: eu, ela, nó, bocedes. A saudação de despedida: Adeu (não adiós) e a ausência de síncope do /d/ na sílaba final entre vogais, como acontece na Andaluzia Ex: Cansado (não cansao).
Não somos portugueses nem espanhóis: somos Barranquenhos.

O barranquenho é muito orgulhoso da sua cultura e manutenção das tradições.
Seria interessante que fossem dadas a conhecer outras tradições para além da tourada; como a do Natal comunitário e sobretudo que o projecto relativamente ao ensino do dialecto barranquenho fosse recuperado, pois há ainda um património riquíssimo que
não se sabe existir. 
(in C.M.Barrancos)