A ex-parceira estratégica do grupo português está de volta. Com ‘know how’ em projectos localizados em águas ultra-profundas, a Eni prepara-se para partilhar o risco de investimento com a Galp.
A Eni, empresa italiana com que a Galp manteve uma atribulada aliança estratégica durante vários anos, é o novo parceiro do grupo português para a exploração e produção de petróleo ao largo da costa alentejana. Com uma participação de 8% na Galp, mas que será colocada no mercado a partir de Dezembro de 2015, a Eni chegou a controlar 33,34% da energética nacional, tendo acordado, em 2012, a venda da maior parte do capital à Amorim Energia. Uma decisão que pôs fim às suas ambições de controlo da Galp.
As duas petrolíferas mantiveram, no entanto, uma cooperação estreita em várias áreas geográficas. Exemplo disso é o projecto moçambicano. A Eni é a operadora da Área 4, na Bacia do Rovuma, na qual a Galp detém uma posição de 10%. A par da Bacia de Santos no Brasil, esta é actualmente uma das jóias da coroa da empresa portuguesa. Nela foram descobertas gigantescas reservas de gás natural. A experiência da Eni na exploração de águas ultra profundas - como é o caso da costa portuguesa - foi determinante para a escolha do grupo italiano para o projecto alentejano.
A Galp fez saber, após a saída da Petrobras, em 2013, das três concessões do Alentejo onde detinha 50%, que pretendia arranjar um parceiro com experiência neste tipo de operação para partilhar o risco de investimento. Caso contrário, admitia devolver a licença ao Governo.
O Diário Económico sabe que o acordo entre a Galp e a Eni deverá ser assinado ainda este mês, depois de submetido ao aval do Estado. A alteração da estrutura accionista, bem como dos prazos e condições do contrato de concessão, carecem sempre da luz verde das autoridades.
A petrolífera nacional tinha já garantido o alargamento do período de exploração por um ano, até ao final de 2014, de forma a concluir os estudos que permitissem a selecção dos prospectos candidatos a perfuração, e tomar então a decisão de abandonar a área ou passar à próxima fase de exploração, que implica a perfuração de um poço de exploração.
Apesar do grande secretismo que rodeia a operação, o presidente do grupo, Ferreira de Oliveira, revelou durante a apresentação dos resultados do terceiro trimestre alguns pormenores sobre a concessão. "O projecto do Alentejo está em fase de análise. Estamos em conversações com o Governo para decidir se continuamos ou não a perfurar no Alentejo. São um conjunto de condições necessárias para mobilizar a tecnologia ao longo de 2015 para iniciar a perfuração em 2016", afirmou o presidente da Galp.
A mesma fonte realçou: "Há um contexto em que podemos perfurar nas águas ultra-profundas de Portugal. Está nas mãos do Ministério do Ambiente, Ordenamento do Território e Energia para o aprovar ou não".
"Sempre dissemos que o risco de investimento era demasiado elevado se estivéssemos sozinhos. Possuímos 100% de participação [no Alentejo]. Temos lá coisas de que gostamos, mas gostaríamos de partilhar o risco com outros investidores", realçou Ferreira de Oliveira.
Na bacia de Peniche, onde a Galp tem outras três concessões, a Petrobras foi substituída pela espanhola Repsol, que se tornou a operadora dos blocos petrolíferos. No âmbito deste processo, o consórcio garantiu a extensão do período de exploração por dois períodos consecutivos de um ano cada. Contactada pelo Diário Económico, a Galp não quis comentar.