8 de novembro de 2013

Fados em Vila Nova da Baronia


Todo o vinho já bebido...

Naquele tempo, nenhuma daquelas pessoas levantava o cálice de vinho de encontro à luz para lhe apreciar a cor. Não se conhecia sequer quem o fizesse, desconhecia-se por completo essa possibilidade. 
Na verdade, nenhuma daquelas pessoas bebia vinho em cálices, mas sim em copos de vidro grosso que eram batidos no balcão de mármore ou na mesa de madeira assim que ficavam vazios. E ficavam vazios muitas vezes.
Naquele tempo, aquelas pessoas não bebericavam com a ponta dos lábios, enchiam a boca de vinho. Fresco, maduro, tinto, era bebido com uma sede própria, incomparável com a sede de água ou de qualquer outro líquido. Era uma sede como um incêndio, precisava de ser extinta. Se houvesse pouco tempo, um pequeno lanche, um encontro de amigos, uma tira de toucinho frito para dividir a meio da manhã, bebia-se uma garrafa de litro. 
De vidro verde, com duas estrelinhas moldadas ao fundo do gargalo, tinha um depósito de dez escudos. Essa era a mesma garrafa que se beberia com facilidade, a escorregar ligeira, num almoço solitário à sombra, com marmita trazida de casa. Se houvesse mais companheiros nessa hora de almoço, gente a descansar as mãos e o corpo, trabalhadores de várias artes do campo, ou pedreiros e serventes, ou mecânicos e aprendizes, então seria necessário um garrafão.
Cinco litros bem medidos diretamente da pipa. O garrafão era revestido por um entrançado de vime, como se estivesse vestido por uma cesta. Tinha uma pega redonda a unir o gargalo e o corpo, que ajudava quem quisesse levantá-lo e beber logo do garrafão. E havia muita gente a aproveitar essa liberdade. Além disso, naquele tempo, nem sempre havia copos à mão.
Os garrafões viajavam bem. Nos alforges dos burros ou das motorizadas, seguiam sempre equilibrados, dois garrafões cheios na ida ou, no regresso, dois garrafões vazios. Naquele tempo, eram muitas as pessoas que não imaginavam uma viagem sem garrafão entre os bens mais necessários. Nas excursões de autocarro ou nas paragens em todas as estações e apeadeiros dos comboios inter-regionais, quando chegava a hora, havia sempre um guardanapo de pano que se desembrulhava, uma navalha que se abria e um garrafão. Naquele tempo, não havia copos de plástico. Havia copos de vidro que eram cheios até ficarem rasos, a uma gota de transbordar.
As paredes das tabernas cheiravam a vinho. Era como se aquele cheiro se tivesse entranhado na pedra. O taberneiro enchia o copo com uma precisão afinada pela repetição. O vinho formava uma superfície de brilho que se erguia ligeiramente acima do rebordo do copo. Muito sério, o freguês fixava esse trabalho e exigia que o copo ficasse bem cheio, até ao máximo. Era exatamente isso que acontecia. O taberneiro nunca entornava ao encher e o freguês nunca entornava ao levar o copo à boca, de mindinho espetado, de olhar pousado no equilíbrio.
Naquele tempo, o vinho era sinónimo de muitas coisas, nem todas certas. Durante o futuro inteiro, seremos sempre alguém que esteve naquele passado. Não podemos fingir que não vivemos. Ainda assim, por tudo aquilo que não era certo, que era tão triste, ainda bem que aquele tempo já passou.

José Luís Peixoto

Há Andebol em Nisa...


7 de novembro de 2013

Sabores de Outono em Castelo de Vide


Venha provar as Sopas Km Zero

A "Sopa km0" é uma sopa produzida com alimentos locais, que não necessitam de ser transportados a longas distâncias, contribuindo para a economia local, para a preservação do ambiente e para uma alimentação mais saudável.

Venha conhecer a "Sopa Km0" - uma das novidades no Festival das Sopas de Montemor-o-Novo (8 a 10 de Novembro de 2013).

Como surge a "Sopa km 0"?

A "Sopa Km 0" é uma primeira abordagem local ao conceito "Km0". Este desafio foi laçando pelo Cidadão Rogério Godinho, da Rede de Cidadania de Montemor-o-Novo, com o objetivo de ajudar a divulgar e promover o consumo de alimentos produzidos localmente (Vetor II da Agenda 21 Local).

Rogério Godinho apresenta-nos este conceito:
"O conceito da denominação Km 0 ganhou força e notoriedade por meio do movimento Slow Food, que é considerado um movimento social, muito além do gastronómico. "Slow Food significa dar a justa importância ao prazer ligado ao alimento, aprendendo a desfrutar da diversidade das receitas e dos sabores, a reconhecer a variedade de locais de produção e dos seus artesões, a respeitar o ritmo das estações e do convívio." Foi através dele que regiões agrícolas italianas - e hoje de outras tantas nacionalidades- resgataram a dignidade do pequeno agricultor e valorizaram as práticas mais tradicionais passadas de geração a geração.

A expressão Km 0 foi emprestada do protocolo de Kyoto e procura mudar estilos de vida, privilegiando o Local ao Global, alertando, por exemplo, que numa refeição tão comum e portuguesa como o bitoque - em que a carne é importada da América do Sul, as batatas de França, a salada de Israel, o vinho da Austrália, a fruta de Espanha e o trigo para o pão da Rússia - em termos energéticos, há maior gasto de energia nos processos de transporte, armazenagem e embalagem do que o ganho energético dessa refeição.

Para além do consumo de petróleo envolvido, a pegada ecológica resultante das emissões de dióxido de carbono e ligada às produções em regime intensivo é brutal.
Encurtar a distância da produção ao consumo, diminui o consumo energético, ajuda o meio ambiente e promove as regiões agrícolas locais, salvaguardando as variedades e espécies típicas de cada região. É um mito que a pequena produção local tenha de ser obrigatoriamente mais cara. O preço final ao consumidor é, essencialmente, resultante dos interesses financeiros e dos desinteresses políticos e sociais. Nos mercados agrícolas locais, onde o produto típico é vendido sem intermediários, sem embalagens e sem custos de armazenagem existem todas as condições para os produtos agrícolas serem mais baratos e mais saudáveis."

A Câmara Municipal de Montemor-o-Novo, de modo a estimular o consumo da SOPA e divulgar o nosso Património Gastronómico, unindo a tradição aos benefícios deste prato tão saudável, coloca pela 10.ª vez a SOPA no centro das atenções.
O X edição do Festival de Sopas realiza-se nos dias 8, 9 e 10 de Novembro, no Pavilhão de Exposições de Montemor-o-Novo. A entrada é livre e não faltará muita animação e claro boa gastronomia. Do Alimado de cação à Sopa de peixe, da Canja de galinha do campo ao Caldo Verde, da Sopa de feijão com couve à Sopa de Tomate, são inúmeras as sopas a apreciar, sendo a seleção a principal dificuldade.

Uma nota também para a realização da sessão “Dieta Mediterânica”, a cargo das nutricionistas Cecília Soares e Carla Godinho, que tem lugar no sábado, pelas 12h00.
No Festival das Sopas 2013, participam 10 restaurantes, mas também estarão presentes o Atlético Clube de Montemor, a Herdade da Amendoeira (Queijos de ovelha, licores, compotas, enchidos e mel), a Associação de Artesãos “A Ciranda” (artesanato), a Casa João Cidade (Produtos hortícolas, plantas aromáticas, frutos da época) e a Associação Patolas e Patinhas.

Fique a saber os restaurantes presentes e as sopas que irão apresentar:

Restaurante A Bancada
- Alimado de cação
- Feijão com abóbora
- Caldo Verde

Restaurante Quinta da Nora
- Sopa de peixe
- Bacalhau Alimado
- Mogango com feijão
- Canja de galinha do campo

Restaurante PIC-NIC
- Caldo Verde
- Sopa de Cação
- Sopa do Pastor

Snack-bar O Telheiro
- Canja de Pombo
- Sopa de peixe (Achigã)
- Sopa de feijão com couve

Regalenga Bar
- Sopa de Tomate
- Sopa de mogango com feijão
- Canja

Restaurante “A Pintada”
- Sopa de cação
- Sopa da pedra
- Caldo verde

Taskina – Tapas e Petiscos
- Creme de vegetais (sem batata)
- Creme de peixe
- Feijão de molhinho com ovos

Taskinha Low Cost
- Pézinhos de coentrada
- Sopa de mogango com feijão
-Tomatada com ovo

Café Restaurante A Ferrenha
- Tomatada em pingo de toucinho
- Sargalheta de batata com bacalhau
- Feijão frade de molhinho

Restaurante Manuel Azinheirinha
- Sopa de Cação
- Canjinha de Aves
- Sopa de feijão com espinafre

(Município de Montemor)

6 de novembro de 2013

Festa do Chocolate


Albert Camus em Évora

Albert Camus não é um estrangeiro na Fonte de Letras!

Dia 8 de Novembro, às 18h30, O Estrangeiro, de Luchino Visconti, com Marcello Mastroiani, Anna Karina e Bernard Blier, 1967.

Para marcar o centenário do seu nascimento e em paralelo com a Universidade de Évora que promove o Congresso Internacional: Centenaire Albert Camus - Lectures Interdisciplinaires (7 e 8 de Novembro), a Livraria Fonte de Letras apresenta o filme O Estrangeiro, de Luchino Visconti, com uma breve introdução por Joëlle Ghazarian, oradora no Congresso e co-organizadora deste evento.

Em homenagem a Camus será servida uma limonada.

Livraria Fonte de Letras
Rua 5 de Outubro, n.º 51, Évora
http://fontedeletras.blogspot.com/

S.Martinho em Santiago do Cacém


Fotossíntese - Fotografia de Nuno Calvet em Montemor



5 de novembro de 2013

S. Martinho no Fluviário de Mora: entrada gratuita

O Fluviário de Mora alia-se à celebração do S. Martinho com ofertas para o fim-de-semana que o antecede - 9 e 10 de Novembro – e para o dia de S. Martinho com a actividade Bolota, A Castanha do Alentejo.

Durante os dias 9 e 10 de Novembro, o Fluviário de Mora oferece entradas grátis a todas as crianças dos 3 aos 12 anos de idade. Uma oportunidade para dar a conhecer uma das maiores riquezas do país e que urge preservar – o montado de sobro e de azinho, e as tradições a ele associadas.

E por tradição, participe no S. Martinho de Pavia - concelho de Mora – durante o fim-de-semana e prepare-se para as famosas quadras escritas nas paredes da vila, sem falar das castanhas e água-pé. E pela manhã, visite os monumentos megalíticos de Pavia e a Casa Museu Manuel Ribeiro de Pavia.

(Porto dos Museus)

4 de novembro de 2013

Tratado de Alcáçovas

Em consequência das lutas peninsulares motivadas pela ocupação do trono de Castela, em 1479 verifica-se a realização, na localidade portuguesa de Alcáçovas, de um trato que estabeleceria a paz entre os dois reinos e as áreas de influência de cada um deles.

Desde cedo, a coroa portuguesa teve o cuidado de acautelar as pretensões sobre os seus territórios conquistados e a conquistar, tanto internamente, como externamente ao procurar junto da Santa Sé o monopólio internacional das navegações e comércio ao longo da costa ocidental africana. 
Como resultado desta política, a coroa portuguesa obtém do Vaticano uma série de bulas que lhe dão o exclusivo da navegação e comércio nas terras descobertas e a descobrir. Define-se assim, o mare clausurum que Castela dificilmente poderia aceitar, por também ela querer lançar-se na aventura marítima. 

Ao mesmo tempo que inicia os seus descobrimentos a coroa castelhana tenta junto do papado limitar os privilégios conseguidos pelos monarcas portugueses. O período mais agudo destas rivalidades ocorre no reinado de D. Afonso V, quando D. Henrique tenta por todos os meios assenhorar-se de alguma das ilhas do arquipélago das Canárias, e D. Afonso V tenta ocupar o trono de Castela, entretanto deixado vago por D. Henrique V.

A guerra da sucessão estende-se à terra e ao mar, inclusivamente através de incursões castelhanas às áreas de domínio português. Se em terra a facção castelhana leva a melhor o mesmo não acontece em mar, facilmente a supremacia dos nautas portugueses se faz sentir, saindo vitoriosa.
Em 1474, D. Afonso V havia entregue a seu filho, D. João, os negócios relativos à expansão ultramarina e neste sentido, o príncipe vai ter uma importante acção nos acordos de paz.

Em 1479, em Alcáçovas, encontram-se os procuradores de ambos os monarcas e aí são estabelecidos dois tratados. O primeiro irá respeitar à sucessão dinástica, que não nos importa aqui referir, e que ficou conhecido como Tratado das Terçarias da Moura. O segundo, designado por Tratado de Alcáçovas, vai tratar da paz perpétua entre os dois reinos. É celebrado em Setembro de 1479, sendo ratificado pelos Reis Católicos em Março de 1480, na localidade de Toledo.

Deste tratado, salientam-se os aspectos que directamente dizem respeito às navegações: definição das fronteiras da expansão e a respectiva jurisdição. Os monarcas castelhanos reconhecem a Portugal a posse da Madeira e dos Açores, reconhecem que a Guiné, ilhas descobertas ou descobrir para além das Canárias são pertença portuguesa, para além de aceitar ao monarca português o direito de conquista no reino de Fez. Como contrapartida D. Afonso V e D. João renunciam a pretensão sobre as Canárias.

Este Tratado impõe-se em relação a todos os outros tratados por ser o primeiro na História em que se tentou dividir o mundo entre duas potências. Mas não podemos afirmar que com ele se estava já a antever o futuro Tratado de Tordesilhas, este ainda estava muito longe e longe estavam as políticas que deram asso à sua realização.
(in Wikipédia)